Sonhos que não floresceram

Há sonhos que nem desabrocham. Perdem-se nas ideias, ficam em um só verso e não se desenvolvem. Vários dos meus seguiram essa linha. Muitas vezes eu mostrava pras pessoas e principalmente para os meus pais as coisas que eu queria ser quando crescesse. Algumas realmente não faziam sentido, como ser cantora ou ser veterinária. Eu só canto de bobeira e não queria estar enfiando um braço no rabo de uma vaca. É normal crianças quererem ser algo que vai ser muito distante para elas no futuro.

Na adolescência eu pulava de sonho em sonho. Queria ser uma artista digital freelancer. "Isso não dá dinheiro! Vai passar fome". Que tal psicologia? Gostava de entender o cérebro humano. "Quer ser uma 'médica de louco'?". Bom, e se for design gráfico? Tem o mínimo de arte. Ou hmm... nutrição. Ou estética. São muitas opções. Então tive minhas primeiras aulas de filosofia no primeiro ano do ensino médio. Ahh, era incrível. Interagia nas aulas como nunca antes, debatia muito, o professor era muito bom. Ao meu redor, entretanto, ninguém sabia sobre o que se tratava, para que servia e diziam ser inútil. 

Em 2019 terminei o colégio. Perdida com tantas ideias e também tanto desprezo alheio. Lembro que minha mãe queria que eu fosse advogada. Apesar dela nunca ter me forçado a isso, sempre pensei no quão aleatório isso era. Totalmente destoante do que eu queria, eu nunca falei uma palavra sobre advocacia. Ela contava que ficou maravilhada quando mais nova, lendo um livrão sobre o assunto e que ela até queria ter seguido a profissão. No final, só penso que os pais sonham pra gente o que eles queriam pra eles (ou o que eles tem, porque é o caminho que foi seguro de seguir), mesmo que não seja o que você, ser individual, quer. 

Fiz alguns meses de design gráfico EAD em 2020. Desisti. E fiz alguns meses de filosofia (licenciatura) pública e presencial em 2022. Desisti também. Design gráfico eu não achei tão legal assim. Filosofia era divertido demais, mas as pessoas do convívio não. Essa licenciatura era um sonho maior e eu ainda sou apaixonada pelo assunto, design era um tapa buraco de uma desenhista que perdeu o rumo na arte.

Desenhista essa que no momento, não sabe o que sentir em relação ao desenho. Às vezes fico deprimida, choro por esse sonho morto. Outras, apenas acolho a certeza do que já se foi. Parece pessimista, mas para mim apenas soa como a realidade. Eu nunca estou satisfeita com meus desenhos, refaço tudo milhões de vezes e as speedpaints (algumas vezes de mais de 50 horas) gravadas automaticamente pelo Procreate não me deixam mentir. Também começo vários desenhos novos e os antigos são deixados de lado. Volta e meia retorno para arrumar algo aqui e ali na anatomia, na pintura... mas ao final fica tudo assim, esquecido.

O perfeccionismo e a procrastinação andam lado a lado. Se eu não consigo fazer perfeito, então nem faço. E isso é horrível, eu só queria poder me divertir mais com aquilo que já foi um hiperfoco. Juro que tento botar mais na minha cabeça a frase "feito é melhor que perfeito", mas eu não sei rodar essa chave. Não é o medo das pessoas dizendo que meu trabalho é ruim, é a insatisfação que eu mesma tenho com ele. Eu não quero postar qualquer coisa pra dizer "ufa, terminei meu primeiro desenho da vida", quero algo que me deixe feliz em saber que foi feito por mim.

Olhando tecnicamente, eu poderia apenas terminar por terminar. Faria portfólio. Venderia commissions. Existe público para todos os tipos de conteúdo. Mas a que custo? Mataria o meu próprio estilo de arte que estou constantemente construindo apenas para fazer algo que eu teria mais facilidade de produzir, com o propósito de monetizar. Eu sinto que isso é uma traição ao meu próprio sonho e tem um tanto de uma ideia capitalista nisso. Eu ainda nem cheguei a um estilo ideal de arte, a minha verdadeira essência. 

Penso que sou um fracasso nesse meio. Eu desenho desde 2017 (digitalmente, quando comecei a fazer arte mais a sério, porque no tradicional é mais tempo, mas sempre saia umas coisas horrorosas que eu não gosto nem de lembrar) e nunca vi nenhum artista que desenha há uns bons anos nunca ter terminado uma arte na vida. Mas logo lembro de Van Gogh, que só começou a pintar aos 27 anos de idade e que a partir daí fez mais de 800 telas, o que é impressionante, dá até um certo alívio de saber que quase tudo é possível. Sei que nunca é tarde demais para nada, mas não sei se ainda tenho forças de sustentar esse sonho. A depressão — diagnosticada recentemente por uma psicóloga, mas que está aqui há muito tempo antes — faz muitas vontades murcharem.

É estranho que por mais que as pessoas te elogiem, você não vê as suas coisas com os mesmos olhos. E eu queria muito ter os mesmos olhos apaixonados que eu tenho ao ver desenhos de outras pessoas, mas não acontece assim. Arte já foi divertido, mas eu acho que já deu pra mim. O perfeccionismo acaba com qualquer perspectiva e ele é muito grave. Não é uma qualidade e não é qualquer "defeito bonito". Torna as minhas coisas inconclusivas e traz a procrastinação de brinde.

Bom, vou trazer um pouco então dessa inconclusividade para essa postagem. Fiquem com desenhos que provavelmente vão continuar sendo WIP's para sempre (apesar de sempre ser uma palavra muito forte). Se eu ficar esperando terminar uma arte, sabe-se lá quando isso vai acontecer. Por não serem finalizados, estão com todas as coisas aleatórias que poderiam acontecer, desde paleta de cores no fundo da imagem, até defeitos grotescos. Ainda sim, são os mais finalizados que eu já fiz. Talvez algum dia eu poste alguns sketchs.

Esse é o mais próximo que chegou de ser terminado. E ainda sim está todo errado, tenho que deixar a lineart mais grossa em todas as áreas, já que está só em algumas. A trança era para ser mais como está em cima, do que a parte debaixo do desenho. É de um Draw This in Your Style da artista Midreky.
Tempo: 30 horas e 50 minutos. Data de início: 07 de Junho de 2021.

Eu odeio a anatomia do tronco desse desenho. E também o rosto era para estar virado para cima, mas não dá nem a impressão disso. Mas confesso que amo a ideia de uma sereia em cima de uma boia de donut. Acho que até gosto da paleta de cores.
Tempo: 54 horas. Data de início: 19 de Abril de 2021.

Não gosto de como o braço, a clavícula, a pintura do pescoço e os seios estão. Mas apesar de tudo isso, tenho muito carinho por esse desenho. É um DTIYS da artista Chrissabug.
Tempo: 73 horas e 17 minutos (mais que isso, porque eu comecei antes pelo computador e não sei quanto tempo foi). Data de início: 02 de Dezembro de 2020 (mais que isso também)

Não tenho tanto o que reclamar desse, só achei a posição do rosto desafiadora. Ele é um DTIYS que eu perdi o link, a referência está ali em cima. Assim que eu achar o artista, atualizo aqui.
Tempo: 31 horas e 40 minutos. Data de início: 24 de Junho de 2021.

A boca, o nariz e a posição do cabelo me incomodam. É mais um DTIYS e a idiota perdeu o link também.
Tempo: 66 horas e 55 minutos. Data de início: 08 de Agosto de 2021.

Esse estilo está fofinho, mas não gosto muito de artes monocromáticas. É um DTIYS da artista Venena.
Tempo: 43 horas e 55 minutos. Data de início: 06 de Janeiro de 2022.

Simplesmente um dos meus favoritos. Amo a coloração do cabelo. Tô penando para colorir a roupa, sou horrível nisso. É um DTIYS da artista lord_gris.
Tempo: 56 horas e 14 minutos. Data de início: 18 de Abril de 2022.

Esse é o mais recente. Não sou muito de fazer fanarts, essa é uma raridade. É o personagem Crona, de Soul Eater, um dos meus animes favoritos. No anime ele é retratado tanto com o artigo feminino, como masculino, tornando-o assim uma pessoa não-binária.
Tempo: 17 horas e 32 minutos. Data de início: 26 de Abril de 2023.